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quinta-feira, 4 de julho de 2013

O SONHO E A PEDRA

Cá estamos nós,
de um lado, pedras depositadas em pequenos espaços de concreto.
do outro lado, nada mais que a concretude que ignora as pedras.
Cravadas ao vento,
as pedras insistem em rolar
por nossos sonhos mais bisonhos,
devaneiam-se de nossos sentidos
cada vez mais castos
o que é da concretude é viril, é armada.

Cada pedra rolada
é só pedra rolada.
em nossos sonhos
cada pedra rolada,
é só pedra rolada em companhia de tantas outras pedras,
tantos outros caminhos.
Nossas pedras são enormes,
agigantam-se sob os pequenos espaços de concreto.
Cá estamos nós,
tomara junto às pedras.

Cá estaremos nós, em imensos espaços de concreto
onde a concretude não solidifique
nosso rolar entre pedras
cá estaremos nós,
tomara junto às pedras,
são elas que rolam os sonhos,
sonhar é pedra.
sonhar é resistir no concreto.

O SONHO E A PEDRA

VONTADE DE OLHAR

Olhando por um lado, a festa já acabou,
A música não toca mais, nem o garçom serve bebida alguma.
Não há mais rostos perdidos em meio ao temporal que começou.
Onde todo mundo se enfiou? "Estão se protegendo da chuva!" Alguém dirá.
Como pode este alguém não se aventurar em seus medos e ali permanecer na chuva?
É a festa, que insiste em não acabar.
Alguém pode ouvir esta canção, em meio a este temporal?
Linda a melodia da chuva, talvez o mais belo acorde desta canção.
Um brinde ao temporal! Garçom, por favor...
Celebre conosco o que ninguém quer contemplar, celebre sua folga momentânea,
Pode até manter o equilíbrio, e equilibrar-se para manter  uma vontade de poder.
É feita desta vontade esta festa,
Uma vontade de festa!
Enfim, um motivo para festejar,
Um festejar algo, motivar o festejo,
Motivar o motivo, algo a motivar,
Um brinde às vontades sem motivo!
Nossas maiores vontades são encerradas em pequenos tragos de instantes possíveis
Nenhuma bebida desce tão macia ao paladar,
Ao palatino, ao desatino.
Somos de fato, pequenos tragos de nós mesmos,
Garçom, por favor, brinde conosco! Brindemos o temporal e sua vontade de festa!
Enfim, um temporal. Ouvem-se canções ao fundo.
Olhando por  um lado, não há festa,
Há vontades de festa em temporais.
Temporal. Há temporal.
Atemporal.


sábado, 20 de outubro de 2012

20 de outubro - Dia da Poesia.

para celebrar o dia da Poesia,
estes versos do poeta Antonio Machado...
para celebrar a Vida e a Poesia,
estes versos de Antonio Machado...
para a Vida em Poesia,
estes versos de Antonio Machado...

Antonio Machado

Cantares

Tudo passa e tudo fica 
porém o nosso é passar, 
passar fazendo caminhos 
caminhos sobre o mar 

Nunca persegui a glória 
nem deixar na memória 
dos homens minha canção 
eu amo os mundos sutis 
leves e gentis, 
como bolhas de sabão 

Gosto de ver-los pintar-se 
de sol e graná voar 
abaixo o céu azul, tremer 
subitamente e quebrar-se... 

Nunca persegui a glória 

Caminhante, são tuas pegadas 
o caminho e nada mais; 
caminhante, não há caminho, 
se faz caminho ao andar 

Ao andar se faz caminho 
e ao voltar a vista atrás 
se vê a senda que nunca 
se há de voltar a pisar 

Caminhante não há caminho 
senão há marcas no mar... 

Faz algum tempo neste lugar 
onde hoje os bosques se vestem de espinhos 
se ouviu a voz de um poeta gritar 
"Caminhante não há caminho, 
se faz caminho ao andar"... 

Golpe a golpe, verso a verso... 

Morreu o poeta longe do lar 
cobre-lhe o pó de um país vizinho. 
Ao afastar-se lhe vieram chorar 
"Caminhante não há caminho, 
se faz caminho ao andar..." 

Golpe a golpe, verso a verso... 

Quando o pintassilgo não pode cantar. 
Quando o poeta é um peregrino. 
Quando de nada nos serve rezar. 
"Caminhante não há caminho, 
se faz caminho ao andar..." 

Golpe a golpe, verso a verso. 




fonte: http://www.astormentas.com/din/poema.asp?key=10543&titulo=Cantares

poio

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Frankenstein em pedaços

Frankenstein em pedaços



Existe um pedaço em mim
Que não precede um transplante.
Será que tal pedaço é vital a mim?
Existe um eu em pedaços
Que não transplanta um preceder
Este eu, por si, propõe-se em pedaços,
Cada pedaço do eu, vivo na figura do outro.
Cada parte do outro, vivo na figura do eu.
Cada parte que não tenho em mim... no outro.
Estranho mundo este do mutável.
O que transplanta, é vital,
O que é vital, carece de viver.
Qual vida transpomos num transplante?

Versos de Matheus R. Prudenciatto

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A odisséia de todos nós


Nenhum lugar é mais imenso que o de nossa própria existência. De todos os lugares possíveis, nossa imensidão se confunde com a imensidão do mundo que habitamos. Não se existe sem ser imenso, em momento algum. no meio desta imensidão, o convite ao reducionismo de nossos espaços de vida ainda perdura. A experiência da vida é minimizada para que ela seja sua própria produtora de reducionismo.
É muito pouco pra nossa imensidão não é?
Nossa imensidão também é poesia:


Plutão caiu,
Já não é mais aquele planeta distante,
já não se distancia do Sol como antes,
Nem notícia Plutão é mais,
nem notícia de Plutão se tem mais,
nenhuma nota sobre antigos festivais.
Que será feito das estrelas que brilhavam nestes palcos plutonianos?
Qual o destino aos que como Plutão caíram?
Pra onde cai um planeta?
Não há mais vagas no buraco negro.
Estão todos olhando pra ele,
Todos nós queremos olhar para este buraco negro.
Qual vista vislumbrar por ali?
Tomara que Plutão por ali esteja,
Com aquela sua distância imensa,
Pois deste modo ainda percebemos o Sol,
Tomara que Plutão por ali esteja,
Com suas estrelas e festivais,
A melodia plutoniana ecoa do espaço, ocupa o espaço,
este espaço feito de todas as estrelas do mundo,
somos também um pouquinho de Plutão.
Cada Plutão que existe em nós tem um festival.
Toda melodia que ecoa em nós é a melodia do espaço.
Nosso espaço, nossas estrelas.
Plutão caiu?

                                                                         E Plutão?
                                                                      Matheus R. Prudenciatto

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Falando do tempo...

Falar sobre o tempo talvez seja o grande lugar comum, adivinhem, nos TEMPOS atuais.
Embora este seja um tema que atravesse outros momentos do pensamento humano, nossos entendimentos contemporâneos celebram o tempo como nosso grande locus no mundo. não há saída nenhuma ao homem moderno que não implique num conflito com o tempo. É a celebração do Cronos como o senhor das ações? Ou esta última  frase seria encerrada com uma exclamação? Será que há tempo há se pensar sobre isto? ...
O poema a seguir é uma provocação a estas questões. É, era ou há de ser uma provocação?


Corra, foge do perigo
Do tempo que é o seu próximo passo,
Ao passo que o tempo não te oferece mais nenhuma saída.
Já acabou?
Não acabou, nem começou ainda.
Corra, há perigo maior agora que outrora
A vontade maior é de que este tempo passe.
Passe adiante. Para onde?
Pra ontem? Talvez seja óbvio demais.
Que tal o amanhã?
O amanhã demora?
“O que será o amanhã?” Pergunta pertinente...

Amanhece em si.
Ah, ainda é cedo pra pensar a vida.
Mas é cedo também pra terminar o que não começou.
O início é tarde demais quando o tempo não passa.
Que horas são? Pergunta insolente...

Corra, antes que amanheça em si.
Amanheça, pois o tempo corre.
Corre pra onde?
Quando há tempo, para uma imensidão de caminhos.
São nossos caminhos que habitam o tempo.
Quanto tempo falta? Pergunta corrente...

Amanhece hoje, assim habita o ontem que existe em si.
Prefere correr? Então fuja do ontem,
E alimente o hoje que nunca virá.
Talvez esse seja seu amanhã.
É o fim? Pergunta inerente...

Tirania do tempo.
Matheus R. Prudenciatto

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Silenciamento

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocasts/1031579-policia-usa-bombas-de-efeito-moral-e-balas-de-borracha-na-cracolandia-veja.shtml


Meu amigo Jefferson Libanori postou esta matéria acima no Facebook.
Fez a mim lembrar de umas palavras que escrevi sobre o que penso sobre silenciamentos, talvez a grande bala de festim letal que a civilização sustenta.
eis as palavras:


Inimigo meu e seu, e simplesmente amigo de muitos
o silenciamento age calado
ensurdecendo os cotovelos,
distanciando os olhares
calando os abraços, os afagos
sucateando os encontros.
O silenciamento é o inedito plágio
daquilo que nunca fizemos.

Inimigo meu e seu, silenciado por muitos,
silenciados por mim,
silenciados por você.
Inimigos ou não, silenciado por muitos.

Silenciamento.
Matheus R. Prudenciatto